segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O amor dá trabalho

Quando nos apaixonamos é tudo demasiado perfeito, é como se a nossa energia se multiplicasse por mil. Não temos sono, não temos fome, e somos capazes de passar todas as horas com o pensamento  na mesma direção, o objeto da nossa afeição.
Entre sms, telefonemas, encontros furtivos... cada segundo parece valer por milhões de anos, mas esta euforia raramente dura muito tempo...
Em pouco tempo, torna-se tudo demasiado repetitivo, os mesmos lugares, o mesmo cinema, o mesmo tipo de filmes, e acima de tudo as mesmas duas caras a olharem-se dia após dia... Nada mudou e essa não-mudança altera tudo! 
É como quando iniciamos uma nova modalidade desportiva, há uma azafama inicial e em pouco tempo é como se não houvesse tempo para a praticar como antes, quase que ficamos entediados, se fosse algo novo até íamos mas fazer outra vez aeróbica  parece que deixou de interessar... E vamos dando desculpas: "Porque hoje estou demasiado cansada"; porque tenho que sair e não tenho tempo, porque está muito frio, ou muito calor, ou muita chuva, ou simplesmente PORQUE SIM!"
Na relação as desculpas não são muito diferentes, são eles que têm o futebol que começa às sete e depois fica tarde, somos nós que nos negamos a jantar às dez, que não queremos ir ao cinema porque vemos um filme qualquer no sofá sem ser necessário trocar de roupa... 
Tudo porque a manutenção do amor dá demasiado trabalho, só gostamos da inovação que chega sozinha, da electrónica  porque termos que planear fins de semana e jantares românticos  pensar em locais diferentes, já não dá, isso era no início  no ano passado, agora preferimos uma relação mais "calma". (ou mentimos-nos com isso). 
É normalmente nesta fase que as relações dos outros parecem melhores que a nossa, especialmente dos que se conhecem há 2 semanas :) e ainda se beijam durante todo o filme e ainda dão presentes românticos  nós continuamos a receber flores e oferecer perfumes, não nos apetece muito pensar e dá muito trabalho escolher presentes, ah e eles e nós temos sempre tudo!
E vamos continuar sempre sem perceber porque é que a nossa relação é tão monótona,  porque é que a paixão ardente dos primeiros meses deu lugar a um amor morno...




segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Amizade, ou não...

Um amigo não envia 20 mensagens só porque não se respondeu à primeira... Aliás o amigo pensa de imediato "depois que me ligue se quiser"... e se não nos virmos num dia vemo-nos nas outras o mundo não terminará amanha...
E quando se relêm os emails, e todas as mensagens, vamos percebendo...E custa que procure semelhanças insignificantes entre nós para nos tornar mais próximos... Custa sobretudo perceber que o nosso entendimento de proximidade e essencialmente daquilo que nos aproxima é tão diferente! Não é porque temos uma foto ou outra parecida, porque vimos os mesmos filmes ou porque gostamos da mesma comida   que somos próximos ou distantes, às vezes as coincidencias são apenas isso, coincidencias... A próximidade é outra coisa, é a empatia total, a fusão de pensamentos e sentimentos, o adivinhar sem questionar e o nem precisar de saber...  E nem dá para explicar sem ferir, podemos passar anos assim, fingindo que não percebemos.  As pessoas são próximas quando partilham essencialmente algo especial: os mesmos sentimentos, e nós sabemos que temos  sentimentos dispares. E mais uma vez custa perceber que o "amigo" anseia por algo que nunca se vai poder dar... A amizade pode ser presenteada de forma incondicional, mas nada mais que isso... Mas a amizade não é de forma alguma aquilo que a outra pessoa quer. Um amigo não procura incessantemente reconstruir todos os passos diários do outro, não vive todos os seus atos e acima de tudo não cobra nada, porque é tudo natural...
E depois sentimos aquela dúvida intermitente falar ou não falar... e vamos deixando andar...
Incoscientemente vamos evitando as conversas que envolvem os nossos envolvimentos emocionais para não magoar e acabamos por ir alimentando as esperanças... porque a outra pessoa pensa "não tem ninguém, nunca falou de ninguém"....
E com o tempo a situação acaba por se tornar incomportável, não sabe como agir como reagir e não há amizade que sobreviva a interesses tão divergentes...

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Os animais também amam

Este é o   Lord com o olhar vazio de quem não sabe porque perdeu a sua princesa... A princesa, foi atropelada há dois dias... Viviam juntos desde sempre, desde a barriga da mãe gata... Talvez não conheça o significado da morte, mas sabe que perdeu o seu tesouro mais precisoso... Que desapareceu a sua mana, amiga, companheira de todos os dias, a cumplice de todas as brincadeiras e de todas as asneiras proibidas... Agora vagueia pela casa, pelo jardim, pelo terraço à procura de qualquer sinal seu, sempre inquieto, sempre ansioso, sempre melancolico... Deixou de brincar... de subir às árvores, de comer com aquele apetite de felino esfomeado... Vai miando como que questionando todos os adultos onde é que é ela está... Queixando-se porque já não a tem... todos o entendem, porque a linguagem do amor é universal. E todos o afagam, e ele vai-se aconchegando nos colos humanos tentando compensar aquele amor puro e único que lhe faltou...

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Os sem coração

E até parece que aquela pessoa não tem coração!
Ou não tem coração, ou não tem as ligações dos fios invisíveis suficientes para sentir... É mais ou menos isto que queremos dizer... Não ter coração significa o que? Que não se sente, que não se ama, que não se sofre? Ou que se sente mais, que se ama mais e que se sofre a triplicar?! Não estamos aqui a falar dos seres maléficos e atrozes que matam e queimam sem dó nem piedade, não, porque esses terão razões bem mais difíceis de explicar... mas das pessoas aparentemente frias, com aquele ar insensível e olhar distante de que nada as faz tremer! Aquelas que não têm coração!
Basicamente, o nosso coração, funciona como o sol, está sempre lá, mas às vezes é escondido por densas nuvens e grandes trovoadas! Existe mas não aquece, pelo menos não atinge os 40º nem o suficiente para conseguir o degelo que nos envolve.
Alturas houve em que foi difícil aguentar no peito um coração vulcão, a pular de sentimentos, capaz de provocar curto-circuito nos tais fios invisíveis, pleno de sentir e até de ingenuidade!
Talvez esse coração não tenha resistido ao choque térmico, á neve que caiu quando incandescente, talvez se tenha quebrado, talvez se tenha fundido, mas sem dúvida sofreu alterações irreversiveis.
E o coração continua lá, mas daquela cor carvão trazida pelo gelo sobre o lume... reacender carvão molhado, não é a mais fácil das tarefas, talvez com outro coração incandescente....