segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A lebre e as tartarugas

Era uma vez uma lebre e uma tartaruga... Não, recomeçando: era uma vez uma lebre e duas tartarugas, ou talvez fossem só tartarugas e uma delas meia autista considerava-se uma lebre, ainda mais lenta que as outras duas, mas a quem a auto-estima em exagero a fazia acreditar em velocidades que nunca existiram...
Então a dita "lebre" lançou um desafio às tartarugas: "Amigas e se fizéssemos uma corrida para ver quem chega mais rápido até aquele lugar. Uma das tartarugas, considerando que nunca chegaria tão rápido como aquela a quem se habituou a idolatrar sugeriu com toda a simpatia, tá bem fazemos uma corrida contra a nossa amiga ali, eu sento-me nas tuas costas e tu corres comigo, vemos se ganhamos nós ou a outra lebre. E ficaram convictas de que a vitória seria sua. A lebre preterida, aborrecidissima, sentida e magoada aceitou contrariada, apenas porque não fazia parte da sua forma de estar na vida recusar desafios... Mas sabia bem o quão injusto seria a corrida, sabia que podia correr tanto como as amigas, mas sabia também que estas amigas já tinham ido um ou dias dias antes reconhecer o terreno até à meta, sabia que estas tinham, relações privilegiadas com o arbitro da partida, que certamente lhes seria permitido trapacear o concurso, e acreditava que a lebre até acusaria dopping se fosse realizado um teste... Um teste anti-dopping que não se realizaria nunca porque o juiz da partida e os responsáveis pelo concurso eram as pessoas com quem saía todas as semanas para jantar, beber, fumar.. Mas a tartaruga, não iria dar papel de fraca e iria participar, sabia bem que os adeptos presentes conheciam as injustiças daquele jogo...
Por sua vez, as amigas que correriam juntas sentiam-se já vencedoras, seriam as primeiras a chegar à meta. Riam-se uma com a outra sobre a outra triste e disparatada e acreditava que algum dia lhes poderia ganhar, elas que estavam unidas, e que contavam com o apoio da organização do evento, que sabiam que a corrida nunca seria justa mas que ganhariam acontecesse o que acontecesse, em ultimo caso o àrbitro a desclassificaria, já estava tudo combinado...
Então a tartaruga solitária, começou a correr todos os dias para treinar, sabia por certo que não ganharia aquela corrida mas estaria preparada para outras...
Chegou finalmente o dia e o arbitro deu o apito final, a "lebre" lá ia com a tartaruga a tiracolo e a outra tartaruga correndo correndo, dando o melhor de si, não para competir com elas mas para testar os seus próprios limites e agradar a si mesma e aqueles que gostavam de si... 
Como a tartaruga estava sozinha, passou à frente às duas amigas... E estas, muito intrigadas entre si, não compreendiam porque o juiz não a desclassificara ainda, esperava que a obrigasse a voltar ao inicio evocando que esta avançou antes do sinal ou não partir da meta mas mais à frente, afinal era o combinado... Enganaram-se porém...  A Federação do Atletismo decidiu alterar a equipe de arbitragem em cima da hora, eram já desconfiados da falta de fiabilidade daqueles que de uma forma ou de outra premeavam os mesmos amigos, as mesmas pessoas...
As duas foram ficando para trás... e a tartaruga sem olhar para trás sem tão pouco saber onde estavam as outras cortou a meta, porque afinal tinha capacidades que ela própria desconhecia e que os outros tentavam camuflar. 
Percebeu então, no dia dessa corrida, o tempo que perdera enquanto se limitava a acompanhar as duas perdedoras!

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Amor e rotina

Existem pessoas que passam pela nossa vida, de forma mais ou menos breve deixando  em nós demasiado de si. Pessoas que nos deixam uma saudade permanente, desesperante, no início e doce, passado muito tempo, mas que pode sobreviver toda uma vida. A saudade daquele olhar divertido e cúmplice  de todos os disparates, que mais ninguém consegue dizer e fazer-nos rir,  a falta de um sorriso, daquele abraço breve mas  intenso. Sentimos que nos fará falta a vida toda, nem que fossem só 5 minutos por semana, voltar a sentir o mundo abrir-se num olhar apaixonado e fechar-se num abraço apertado... Aquela pessoa que nos faz reconhecer o seu perfume em qualquer outra pessoa, em qualquer parte do mundo, deixando-nos o desejo de ficar só mais um pouco para sentir como se ainda estivesse ali! Alguém que nunca vamos culpar de nada, porque adoramos ao pormenor todos os seus defeitos, e que comparamos inevitavelmente com qualquer outro que cruze o nosso caminho com intenção de ficar...
E depois, então depois, existe outro sentimento, por outras pessoas... A falta de ter alguém ao lado no cinema só para segurar a mão, porque claro que só íamos para ver o filme. Das mensagens no telemóvel, é mais aborrecido mantê-lo mudo por horas, sem chamadas nem sms... Pessoas de quem sentimos a falta mas que não nos tiram o sono (se calhar nunca tiraram...). Aquela recordação do "Quando estava com ele ao domingo faziamos isto... e na passagem de ano iamos ali..." A falta do jantar no dia dos namorados e da surpresa  no aniversário. Pessoas que fazem falta para completar o nosso quadro... Mas que não nos fazem chorar e para quem não temos vontade alguma de ligar a cada grande novidade na nossa vida, até porque não chegamos a decorar o número dessa pessoa. Pessoas por quem nunca sentimos amor ou uma grande paixão, apenas um sentimento de habituação, cómodo e rotineiro.