quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Londres como Destino

Então foi assim, a minha mãe pátria achou que eram horinhas de sair da barra da sua saia e voar sozinha, e assim foi, Saltei do ninho às 4 da manhã e voei para longe. Para longe de um país que não tinha mais condições de me sustentar, de me proteger ou me proporcionar algum conforto. 
E lá vim eu com 30 kg de malas nas mãos e uma tonelada no coração... Não acordei o meu pai... não porque era muito cedo mas porque era melhor que não houvessem despedidas... A minha mãe não precisou de ser acordada (desconfio que ainda não tinha conseguido adormecer). 
6 da Manha no aeroporto em Portugal, 9 em Standsted e 11.30 no destino em Londres.
Chuva torrencial, mochila às costas, mala na mão direita, e na esquerda a morada da agência da casa. A minha amiga seguia ao meu lado, dizendo apenas o essencial, não fosse eu reparar que estava com medo... As pessoas têm destas coisas pensam que se não falarem de coisas más elas não vão acontecer, manias... Descobrimos a agência, a casa, o nosso quarto, depois os supermercados e chuva e mais chuva...
Estavamos a viver em Londres, o pior tinha passado, ou talvez não. Na altura com o pensamento "Se os outros conseguiram eu também"... E afinal esta também pode ser uma zona de conforto, quem sabe...
Os dias foram decorrendo naturalmente, tão naturalmente que tivemos a audácia de pensar "afinal mudar para aqui ou para Lisboa é a mesma coisa"! É??? Será que é??? Claro que não!!! "Até se quisermos podemos ir a casa uma vez por mês!!!" Ah Podemos??? Que engraçado não fazia ideia, afinal passaram-se 5 meses e ainda ninguém foi!
Afinal talvez não seja tão simples assim...  
Quanto às saudades... Ah essa palavra não existe aqui... Missing... is not the same thing... so... é mesmo isso optamos por não pensar nas coisas para que não se materializem... Café? Jantar? Amigos? Praia???... Não agora só reconheço o significado de tube, museum, park and I don´t know... Ah e skype, o skype é o melhor amigo de toda a gente que conheci por aqui, teletransporta-nos uma hora por dia a Portugal. 
Lembram-se daquela lição de ciências sociais sobre micróbios, os micróbios morrem pela ação do calor, as baixas temperaturas apenas os paralisam. Nós fazemos isso todos os dias com os nossos sentimentos por aqui... Lá vamos congelado as saudades, que ficam paralisadas, sabendo no entanto que o calor de um abraço as fará um dia desaparecer... 
Há dias em que fico of no facebook, no skype, porque não me apetece saber coisas de um lugar que não é meu!!! O meu egoismo não me permite ouvir pessoas falar de quanto sentiram a minha falta quando beberam café na ponte... Quando jantaram na quelha... quando passearam na Foz. Pois... da minha parte, posso correr o Reino Unido todo que não associo nenhum lugar a ninguém... nunca estiveram aqui comigo... Bem penso sempre na Raquel quando atravesso aquela ponte porque temos uma foto lá da semana em que viemos cá... e só...
Claro que temos os amigos de cá, aqueles que só agora 5 meses depois conseguimos abraçar, com quem não sabiamos  se podiamos contar até pouco tempo... Com quem às vezes preferimos o silêncio, porque dá preguiça de explicar sempre tudo em inglês, tudo não... mas os sentimentos... o translate não funciona muito bem para isso!  Como dizia um outro amigo, emigrado também, mas em África "às vezes só precisava de um abraço português". Ah, e de alguém que pergunte "are you ok?"  e espere 10 segundos por uma resposta! 

Maria Barbosa